sábado, 25 de outubro de 2008

SENTAR-SE À MESA DO POBRE

Um monçanense, Antonino Dias, assumiu este mês as funções de Bispo de Portalegre-Castelo Branco. Oriundo da freguesia de Longos Vales, onde nasceu há 59 anos, este clérigo, que já foi jornalista, desde cedo mostrou uma inteligência fulgurante e capacidades acima da média, a par de sensibilidade para com um sentido de Igreja, no que ele pode significar de comunidade em que todos devem ter, de igual forma, lugar.
De origem humilde, nunca a esqueceu e procurou potenciar isso como uma mais-valia. Na entrada solene na nova diocese, vindo de Braga, onde era Bispo Auxiliar, Antonino Dias colocou a ênfase nos mais necessitados. Sereno e firme, próprio da sua maneira de ser, foi claro nisso mesmo, com um discurso, ao mesmo tempo, positivo e cheio de esperança, mas atento às hipocrisias e ao exibicionismo dos que usam a Igreja e a religião para a sua promoção social e económica.
“É fácil sentar o pobre à mesa e dar-lhe o peixe. É bonito. Pode até trazer dividendos de vária ordem e até ser conveniente para o espectáculo”- Todavia, adiantou, “é muito mais difícil ´´sentar-se à mesa do pobre, sentir e sofrer com ele no silencia discreto de quem ama e, aí, ter tempo para ele, perceber a sua fome e sede de justiça, ouvi-lo até ao fim e, se for caso, ensiná-lo a pescar e garantir-lhe o direito de o fazer em liberdade, sem medo nem complexos, no respeito pela sua dignidade, com direitos e deveres e com vocação à felicidade. Este serviço implica em quem o faz o despojamento de si próprio, a pobreza interior”, afirmou o prelado.
E não perdeu tempo, mesmo sendo inconveniente para muitos que o estavam a ouvir:”O maior e principal desafio para uma Igreja serva e pobre que sabe que, para ser credível, tem de viver de toalha à cinta, amando e servindo, de forma criativa, concreta e libertadora”. Concluindo: “O resto é demagogia! É mero entretenimento de novos fariseus para sossegar consciências endurecidas em paz podre e provocar que os pobres continuem ao léu, despidos da sua dignidade e sem força para reivindicar”. Por isso, “como sacramento de Deus, como Cristologia viva”, a opção pelos pobres “é o sinal evangelizador mais visível que a Igreja pode exibir”.

Sem comentários: