sábado, 5 de janeiro de 2008

MONÇÃO — NA RAIA E NO NOROESTE

O concelho de Monção situa-se no noroeste de Portugal, pertencendo ao distrito de Viana do Castelo, sendo, também, integrante do área designada como do Vale do Minho.Com uma superfície de 203, 28 quilómetros quadrados, é definida a Norte por Espanha (concelhos de Salvaterra e As Neves), a Sul por Arcos de Valdevez, a Este por Melgaço e a Oeste por Valença, distando, aproximadamente, 50 km de Vigo (Galiza/Espanha) e 70 km de Braga e Viana do Castelo.É um concelho rural de segunda ordem e pertence ao distrito de Viana do Castelo. Tem uma população ligeiramente inferior a 20 mil habitantes, distribuída por 33 freguesias. A sua principal riqueza agrícola são os vinhos verdes, branco e tinto, entre os quais o famoso Alvarinho. Mas também produz milho, batata, centeio, feijão, azeite e frutas. As suas florestas são ricas em pinheiros, carvalhos e eucaliptos.No que respeita a pecuária esta sobrevive, essencialmente, da criação de gado bovino, canino, suíno e ovino. A alimentação destes animais já determinou o cultivo de grandes extensões verdes no concelho.
O dia de mercado é, na vila-sede de concelho, a quinta-feira. Na freguesia serrana de Merufe (Portela de Alvite) decorre, a 12 e 28 de cada mês, uma feira essencialmente virada para o comércio de gado.Como romarias principais, Monção tem a festa da Virgem das Dores, no último fim-de-semana de Agosto (a maior do concelho); a de S. João Baptista, a 24 de Junho, em Longos Vales; a da Senhora do Rio, em Segude, a 3 de Maio; a de Senhora da Vista, em Tangil, no primeiro domingo de Agosto; a do Senhor do Bonfim (Anhões), no segundo domingo de Julho; e a da Senhora da Cabeça, em Cortes, nas terças-feiras a seguir á Páscoa.A partir de 2003, o feriado municipal de Monção passou a ser a 12 de Março, data da atribuição do primeiro foral ao concelho (1261). Até 2002 era no dia do Corpo de Deus (10 de Junho), aquando das festa do Corpus Christi e da Côca. Esta está na origem de uma recriação medieval do combate entre S. Jorge e o Dragão, isto é o Bem e o Mal, realizado no anfiteatro do revelim do Souto e que atrai uma grande multidão de pessoas.No período estival, decorrem, também, manifestações que pretendem fazer renascer o interesse pelas tradições em vias de desaparecimento, como a Festa do Linho do Vale do Gadanha, em Moreira, a Feira de Artesanato e a Feira de Alvarinho, Caça e Pesca, na sede do concelho, além de vários festivais folclóricos.
UMA VISITA A MONÇÃO — MARCOS DE REFERÊNCIA
Considerada uma das mais airosas e saudáveis localidades do Alto Minho, Monção é uma vila fronteiriça, fortificada e situada na margem esquerda do rio Minho, que se orgulha do seu passado histórico e ufana do muito que tem de belo e válido.
As muralhas da vila e as suas portas; a Igreja Matriz, de raiz românica (séc. XII), com o seu portão de capiteis, a capela tumular manuelina, a custódia monumental do séc. XVI, o cofre em prata do séc. XV e a naveta artística; a Igreja dos Capuchos, verdadeira obra de monges; as Caldas de Monção, estância termal e climatérica que é um verdadeiro centro de turismo da Raia Luso-Galaica e do Alto Minho; a Esplanada dos Néris, assente sobre os muros da fortaleza com vistas e panoramas encantadores: em baixo, o rio Minho tranquilo, cristalino e fresco, na outra margem, a Galiza, simpática vizinha, de tonalidades vegetais idênticas às nossas, e, ao longe, o escalvado volume das montanhas — dão-nos a certeza de que Monção é um oásis de gosto e beleza.Saindo da vila e percorrendo o seu concelho, diremos que Monção é quase um jardim edénico, onde constitui uma delícia contemplar as pradarias verdejantes, os vinhedos a perder de vista, principalmente em Cambeses e Moreira, centro da mancha produtora de afamado e típico "Alvarinho", as correntes de água pura e cristalina, nos fraguedos que, majestosamente, enquadram este cenário de maravilha.
Detenhamo-nos nas Curvas de Guimil, no Senhor do Rio (Segude), montes da Assunção, da Senhora da Graça, da Senhora da Vista e do Senhor do Bonfim; e em Santo António de Vale de Poldros uma veranda com 30 cardenhas(casas antigas de pedra e colmo), e onde se desfruta duma beleza natural envolvente e esfuziante.
Admiremos a imponência do Palácio da Brejoeira, construção do início do século passado e propriedade particular, cuja interior, faustoso, corresponde à altivez exterior; o Mosteiro de Longos Vales (e o seu templo românico do séc. XII, parte integrante do antigo convento beniditino) que foi cruelmente modificado, restando apenas a cabeceira, que é ábside única na península; o lindo Cruzeiro do Carregal, monumento nacional em Cambeses; o importante castelo medieval de Lapela, formado de uma só torre, mas sinal manifesto da antiga grandeza do Alto Minho; a ponte romana na Ponte de Mouro, que nos lembra o histórico encontro, em 1386, entre D. João I e o Duque de Lencastre, seu aliado e futuro sogro.
Ao lado destes admiráveis marcos referenciais, outros há fazendo jus ao dito de que "viajar pelo Minho e não visitar Monção é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa".
AS ORIGENS DE MONÇÃO
A sua origem perde-se no nevoeiro dos tempos. Porém é, indubitavelmente, uma povoação que cresceu e se desenvolveu em terra habitada já por populações pré-históricas, como dão conta vestígios patentes de civilizações do paleolítico, do megalítico, do neolitico e da idade dos metais. Provas evidentes disto são achados de instrumentos líticos e metálicos (percutores, machados de pedra polida e de bronze) e de inscrições rupestres (gravura serpentiforme de grandes dimensões e covinhas, no Petróglifo de Cambeses, e gravuras rupestres no Monte da Assunção, em Barbeita). E, igualmente, porque se encontram nas suas vizinhanças estações pré-históricas, como os Castros de S. Caetano, em Longos Vales, da Assunção, em Barbeita, da Senhora da Graça, em Badim, e, em Cristêlo-Troviscoso, um povoado fortificado, visível por uma linha de muralhas apresentando alguns afloramentos de permeio, também da cultura castreja.Exemplos da dominação romana são, para lá dos vestígios encontrados nos Castros , a área granítica de Reiriz-Troviscoso, a ponte romana de Troporiz e a necrópole (cemitério) de Cortes.Sobre estes dois últimos, um parêntesis para referir que - e lembremo- nos que estão a pouca distância um do outro - existe, próximo da NECRÓPOLE, um monte designado por CIVIDADE (havendo cemitério tem que haver, ali perto, uma povoa_ção). Sabe_se da existência de uma via secundária que, saindo daquela que ligava Bracara a Asturica, atravessava o rio Gadanha na ponte de Troporiz e dirigia-se ao rio Minho, provavelmente nas proximidades de Cortes que, nesses tempos, tinha vau e os actuais países ibéricos não estavam politicamente divididos; e há, do lado espanhol, outra ponte romana sobre o rio Tea. Segundo a tradição, foi em Cortes que, inicialmente, se terá estabelecido a vila de Monção, quando os Romanos ali edificaram um acampamento fortificado, para quartel-general das suas "coortes".
A acrescentar a isto, existem escritos de alguns investigadores que afirmam por aqui terem passado Iberos, Assírios, Gregos, Celtas, Romanos, Suevos, Visigodos, Árabes e Cristãos da reconquista, provando à saciedade a importância da localização geográfica de Monção já nesses tempos longínqua. Outros autores afirmam que Monção vem de Mons Sanctus, do grego Orozion, e também se teria chamado Obobriga, no tempo dos Celtas, e Mamia ou Mamea, aquando da estadia dos Romanos, sendo os seus primeiros habitantes, há cerca de 4 mil anos, os Iberos.Que tivessem por cá passado todos estes povos é de crer que sim; mas que Monção tivesse estes nomes não passará, possivelmente, de barata fantasia "parecendo jóias caras", como escreveu o escritor-investigador P.e Bernardo Pintor.
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Nos primórdios da nacionalidade, Monção era um reguengo cuja igreja D. Afonso Henriques deixou em testamento ao Bispo de Tuy, desmembrando-a do Couto de Mazedo, a antiga vila Ameixenitello, que em 1059 pertencia ao mosteiro de Guimarães.
Quando D. Afonso III lhe deu o foral, Já era Couto com privilégios concedidos por D. Afonso Henriques e D. Sancho I.
A actual vila de Monção foi com este novo nome restabelecida ou fundada por D. Afonso III, Conde de Bolonha, que lhe concedeu um primeiro foral em 1249 e outro em 1261, (12 de Março provavelmente um provisório e outro definitivo, no local então denominado Couto de Mazedo, com vista a dar incremento a um núcleo de povoadores junto da fronteira. Assim se compreende ter sido o porto de Monção o principal do rio Minho, desde Lapela a Melgaço, correspondendo ao caminho para Portela do Vez e por onde mais fácil seria invadir o centro da nossa província.
Sendo Monção, antes do reinado de D. Afonso III, um local já habitado, muitos autores defendem que, aquando da sua fundação como município, foi também povoada com habitantes da (inexistente) vila de Badim, o que não é exacto, e do Julgado de Penha da Rainha de que nos resta hoje, como memória, a ermida de S. Martinho da Penha, em Abedim. Deve ser aqui a confusão de Badim com Abedim!...No reinado de D.Dinis, querendo este assegurar os limites do reino, foi levantada uma torre de menagem, com cerca de 13 metros de altura, nas imediações do actual edifício da Câmara Municipal, a que chamavam Castelo, rodeando a vila com fortes muralhas, que D. João II e D. João IV aumentaram e que ajudaram a vila a sustentar vários cercos nas lutas havidas com Castela, designadamente nos reinados de D.Fernando e D.João IV. Dessa primitiva praça, que abrangia uma porção do Terreiro, Bairro da Misericórdia, Néris e princípio da rua Nova, onde se abriam as velhas portas do Sol, nada se conserva hoje em dia, para lá da malha urbana característica, da Igreja Matriz de raiz românica e de algumas casas quinhentistas, identificáveis pelas molduras e decorações nas portas e janelas.
D. Dinis, também para isentar de toda a jurisdição galega a povoação, voltou a obter, por troca feita em 1 de Janeiro de 1308 com o bispo tudense, o padroado da sua Igreja de Stª Maria.Monção fortificada garantia mais vantagens à defesa do reino de que o velho Castelo de Penha da Rainha, lá nos montes. Rodeando a vila, estendem-se largos terrenos de cultivo. Ali, a dois passos, o rico mosteiro de S. João de Longos Vales. A nova povoação vai subindo. Desmembra-se de Mazedo, formando uma nova freguesia, sob a protecção de Santa Maria. Era, já então, um rio Minho servindo, concomitantemente, de separação e ligação entre as duas pátrias com bom solo, bom clima e uma população etnicamente operosa.
A LENDA DE DEULADEU
É dos tempos das guerra com Castela, quando D. Fernando (1383-1385) ambicionava assumir a Coroa Espanhola. Entraram as nossas hostes triunfalmente pela Galiza, mas em breve foram obrigados a retirar, chegando mesmo os Castelhanos a invadir o território português.E é aqui que entra a lenda: os castelhanos cercaram a praça de Monção e, não podendo forçar as portas, pretendiam rendê-la pela fome. Quando estava já cozida a última fornada de pão de que dispunha dentro da Vila, Deuladeu Martins e atirou-as da muralha, bradando aos inimigos: porque deveis ter falta de pão, nós repartimos convosco aquele que nos sobra. 0 inimigo, enganado por este expediente, levantou o cerco.Todavia, nem a figura de Deuladeu Martins, nem desse lendário cerco de 1369 existiram. Assim o demonstrou, de forma irrefutável, António Pinho Júnior, no seu trabalho "O Escudo de Armas da Vila de Monção Corrompido pelo Trádito Deuladeiano".O Brasão de Armas da Vila de Monção, em que aparece uma mulher coroando o castelo heráldico, com um pão em cada mão, simbolizará, na realidade, o direito de "brancagem", que era o imposto sobre o pão cozido, outrora a principal indústria monçanense, e que do Foral de Afonso III, de 1261, passou ao de D. Manuel de 1 de Junho de 1512.

"Monção deve ter sido a vila portuguesa que mais tempo esteve sob domínio espanhol"- afirma o historiador Garção Comes. Primeiro, como todo o reino, desde 1580 até 1640; depois, e em consequência da guerra da restauração, sofreu o assédio inimigo desde Outubro de 1658 até Fevereiro de 1659, a que se seguiu, manu militari, a ocupação que terminou só com o tratado de paz entre Portugal e Espanha assinado em 13 de Fevereiro de 1668.Durante a guerra da restauração, no reinado de D. João IV, aconteceu um feito — este sim, autêntico — protagonizado por uma mulher.MARIANA DE LENCASTRE, condessa de Castelo Melhor, ao aperceber-se do perigo que corriam as tropas portuguesas nas cercanias de Salvatierra, do outro lado do rio, sob o comando de seu marido, então governador da praça monçanense, conseguiu evitar uma possível derrota.O caso aconteceu quando a Condessa, assistindo dentro das muralhas de Monção ao combate, assumiu o comando da praça e com as peças de artilharia que existiam, conseguiu tantos estragos nas forças inimigas que as fizeram pôr em debandada. A praça era, nesta altura, defendida com um poderoso e amplo polígono de baluartes, cortinas e revelins, possuíndo cinco portas: a do Rosal, de Salvaterra, de S. Bento, da Fonte e a do Sol.
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A segurança da praça, a valentia do que as defenderam, comprovou-se no famoso CERCO DE MONÇÃO de 7 de Outubro de 1658 a 7 de Fevereiro de 1659, um dos factos mais marcantes da história monçanense e um dos feitos da guerra da restauração.
Andava acesa a guerra entre Portugal e Espanha; quando as tropas espanholas, constituídas por um exército da Galiza de 1200 homens, passam o rio Minho, tomam Lapela e sitiam Monção. Estava na vila um experimentado militar, o Mestre-de-Campo-General LOURENÇO DE AMORIM PEREIRA, que dispunha apenas de uns 600 militares.A resistência foi heróica, mas improfícua. Nos últimos dia combatia-se dia e noite. Foi nesta altura que HELENA PERES, chefiando um grupo de cerca de 30 mulheres aguerridas as conduzia aos locais de maior perigo, em reforço da guarnição exausta. Uma delas era a chamada TURCA que expirou, na Igreja do Espírito Santo, com as vísceras dilaceradas por uma granada inimiga. Tornava-se impossível continuar, mas a ideia da rendição só quase no fim lhes passou pela cabeça. Foi então proposta aos defensores da praça uma capitulação honrosa que foi aceite. A 7 de Fevereiro de 1659 estes saíam com as armas aos ombros e as bandeiras desfraldadas, esquálidos e mal se sustendo em pé, perante o espanto das forças espanholas que lhes renderam homenagem.Monção ficou então mais nove anos sob domínio espanhol, até 14 de Maio de 1668, na sequência da assinatura do tratado de paz de 14 de Fevereiro desse mesmo ano.
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Depois das guerras, nos primórdios do séc. XVII, alargou-se a vila com as muralhas em que se aproveitou a pedra da velha praça de Lapela, onde apenas ficou a torre que ainda se conserva. De igual modo, veio a pedra de um forte levantado nessa altura em Barbeita, junto à Ponte de Mouro.

VINHOS DE MONÇÃO
UMA FAMA MULTISECULAR
Vem de muito longe a sua fama. A cultura dos vinhos de Monção começou antes da fundação da nacionalidade. 0 nome da freguesia de "Merufe", advindo do grego, significa ampelos ou gavinhas e deve ter originado da expressão popular, no Minho, para exprimir distúrbios de embriaguez.
O foral de D. Afonso III, de 1261, reconheceu a posse dos vinhos aos habitantes de Monção. Não eram vinhos de plebe, mas de fidalgos de velha estirpe e nobreza reconhecida, a ponte de, sendo proibido nas casas nobres a venda de qualquer vinho a retalho, só aos fidalgos de Monção era dado o privilégio de os atabernar.
A sua exportação data de épocas remotas, sendo iniciada pelos pescadores do norte que desde tempos imemoriais exerciam a sua arriscada indústria nas costas da Inglaterra. A notícia mais antiga que temos, e mesmo assim carecida de confirmação, refere que em 1295 foi paga pela Inglaterra uma pipa de vinho português por três libras, para a entronização de um novo bispo. 
Já antes do tratado com o rei de Inglaterra Eduardo III, em 1353, há notícias de exportação, em 1300, de vinhos portugueses, de boa cêpa, visto no ano de 1340 piratas terem assaltado barcos com vinho e no reinado de D. Fernando(1367-1383) chegaram a sair, num só ano, 500 navios que teriam levado 200 mil toneis. Este volume de exportações, já bastante significativo, aumentou ainda com privilégios concedidos por D. João I (1385-1433).No reinado de D. João III (1521-1557) os navios de Viana vendiam vinho minhoto na Flandres; por último, até já por exigência mercantil, visto o consumo que havia na Inglaterra. Em 1559 já se exportavam vinhos de Monção para Flandres e portos ingleses do mar do Norte. É Monção e Ribadávia (Galiza) que figuram entre os primeiros vinhos de exportação com nome. Já nesse tempo se pagava a sua uva a 1,180 reais o quilo, preço bastante elevado, correspondendo certamente ao epíteto de "bebida de nobres".Depois os ingleses vieram buscar os vinhos da província do Minho directamente a Viana o produto ía pela tracção animal para os Arcos de Valdevez, passando à via fluvial no Carregadouro, a 47 km de Viana do Castelo. Mais tarde fundaram uma feitoria britânica, não só para a compra dos vinhos de Monção (designados por "Red Portugal Wines"), mas também de outros vinhos portugueses e espanhóis.
Estava florescente a Agência Inglesa em Portugal em 1599, mas alguns anos depois a ocupação do território e a guerra com Espanha, no tempo de D.João IV, fizeram parar as transacções (a feitoria inglesa foi transferida para o Porto, ficando nula a escrituração desta casa exportadora dos nossos vinhos) que voltariam a ser prósperas depois de curadas as feridas da ocupação castelhana.Em finais do séc. XVII, princípios do séc. XVIII, havia um armazém da feitoria inglesa em Serrade no caminho para os Milagres. 0 inglês T. Woodmass, que em 1704 visitou Monção, refere o preço de "15 meel reas" por cada pipa de 650 litros.
Porém, a instituição da Companhia do Douro pelo Marquês de Pombal e o nefasto Alvará de 4 de Agosto de 1776, que proibia a exportação, provocaramlhe grandes prejuízos. A lei foi revogada em 9 de Agosto de 1777, mas só anos depois é que a situação se alterou, encaminhando-se novamente o concelho para a produção e comércio de vinhos verdes.Constituindo os vinhos de Monção, sempre, a principal actividade agrícola do concelho, a Câmara Municipal, também sempre, interviu activamente na sua produção e comércio, mesmo durante o período de domínio espanhol. Em 1791 estabeleceu "O Senado e uma ou mais tabernas de modo que nem perdesse nem fizesse negócio". Em 1865 "tentou marcar epocha official para as suas vindimas, para conseguir fazer real_çar typicas qualidades dos vinhos de Monção, alguma cousa conseguido do seu tão patriótico intento".

ALVARINHO - UM VINHO ÚNICO
O facto de Monção se encontrar numa zona privilegiada, com um solo e um micro-clima especial, favorável ao cultivo da vinha, constitui a principal razão que a levaram à produção de um néctar como o "Alvarinho" que se impõe na gama dos vinhos nacionais e estrangeiros.
A origem da casta "Alvarinho" ainda não está bem esclarecida. De acordo com alguns autores, foi o Duque de Borgonha que trouxe para a região algumas das mais notáveis castas da Borgonha, que "distinctamente se acclimataram na região, produzindo os vinhos que tão alto renome conquistaram". Efectivamente, a cor, o aspecto, o aroma e, sobretudo, a paladar, é comparável aos de Borgonha, Bordéus e Reno, de clima mais frio, e assim se poderá explicar a sua precocidade e o elevado grau alcoólico. Na realidade, análises feitas assemelham-o aos "Riesling" e "Moselle", embora se verificasse ter o nosso vinho ligeiramente mais densidade e grau alcoólico e menor acidez total.Outros há que negam este local de origem e sustentam que a casta "Alvarinho" terá vindo da Grécia, introduzida por mercadores ingleses, ao tempo em que os vinhos de Monção concorriam com os da Ribeira Lima e os de Ribadávia no mercado inglês. Pelo menos, não repugna acreditar na interferência da feitoria na importação da casta que os compradores dos vinhos considerassem valiosa, tanto mais sendo o seu vinho alcoólico ao gosto inglês.Só em Monção, o vinho "Alvarinho" apresenta condições de acentuada distinção. Aqui ele manifesta qualidades tais que se distingue, perfeita e facilmente, de todos os outros (brancos e tintos) da Sub-Região de Monção — constituída por este concelho e pelo de Melgaço, e só se produz em toda a plenitude das suas qualidades em algumas freguesias do concelho de Monção.
A grosso modo, pode delimitar-se a região do "Alvarinho" em outros locais que conhecemos o seu cultivo dá um produto de somenos valor ao norte pelo rio Minho, a sul pelos primeiros contrafortes da Serra do Extremo, a Este por Melgaço e a Oeste por Lapela. O relevo orográfico forma uma curva com os extremos apoiados no rio Minho e é nesse espaço, eriçado de colinas, quase ravinoso, junto aos rios Mouro e Gadanha, que apresenta condições magníficas de solo e exposição para a cultura da casta.Os principais factores que o tornam diferentes dos outros vinhos verdes o seu aroma intenso e a sua elevada graduação alcoólica, que pode oscilar entre 11,5 e 13 grau, mantendo, no entanto, as mesmas características, nomeadamente a sua elevada acidez fixa, com predomínio dos ácidos tartárico e málico, e o frescor e viveza do paladar.
Enquanto novos, os vinhos "Alvarinho" ou que e em esta casta predomina, apresentam um leve "gasoso", originado no desdobrar lento do resto de açúcar ou pouco importante retrogradação do ácido málico. Esta fermentação malo-láctica será tanto intensa mais um ponto de contacto com as outras castas do vinho verde — quanto melhor for o fabrico. Resultados analíticos revelam que a composição dos môstos e de alguns vinhos mostra bem esta possibilidade.
O envelhecimento, a acentuação do aroma e o tom seco do paladar dão-lhe uma nobreza difícil de encontrar em vinhos de mesa portugueses.
O vinho "Alvarinho" é obtido pela produção e transformação de uma única casta de uva branca, o "Alvarim" e dela lhe provém e nome.
A actual tecnologia do seu fabrico começa pela separação das uvas, sendo reservadas para este vinho somente as bem amadurecidas e em bom estado sanitário, seguindo-se-lhe um esmagamento, não com as actuais esmagadoras, mas apenas numa leve prensagem com máquinas especiais, sendo deste modo possível obter um produto não proveniente de altas pressões.A fermentação do mosto é feita de "bica aberta", ou seja separada de todas as partes sólidas das uvas e a temperatura conduzida e controlada artificialmente de modo a não ultrapassar os 20/22 graus . Com isto se pretende conservar no futuro vinho as mais ténues qualidades da sua constituição original, de modo a agradar e satisfazer requintadamente a vista, o paladar e o aroma.Vinho "Alvarinho" é, conforme o definiu Barreto Moura, engenheiro técnico agrário com muitos anos de experiência nesta área, um vinho branco de paladar leve e fresco, de cor citrina e de aroma delicado. É, pela originalidade, um dos melhores do mundo. Deve beber- se fresco, a uma temperatura, aproximadamente, de 10 graus.
MANUEL SOTOMAIOR (Copyright, 1986/2008)



BIBLIOGRAFIA
Inventário Arqueológico do Concelho de Monção - J. A Maia Marques
Monção e o seu Alfoz na Heráldica Nacional — José Garção Gomes Das actividades Municipais e da Governação durante a Ocupação Espanhola-J.G.Gomes A Coca Monçanense — L. Quintas Neves Em Terras de Deuladeu — VáriosMinho Turístico — Vários
Maravilhas de Viana - António Paço
Para a História do Alto Minho - P.e Bernardo Pintor in "Diário do Minho" Homenagem em Monção a D. Nuno Álvares Pereira - P.e Bernardo Pintor Monção - in jornal ''O Regional'"
O Primeiro Habitante de Monção - H. M. Barreto Nunes in "A Terra Minhota" Monção de Relance — H. M. Barreto Nunes in "A Terra Minhota" Typo dos Vinhos de Monção - Visconde de Vilarinho de S. Romão A Famas dos Vinhos de Monção e a Tradição do Comércio Inglês — J. Cerqueira Machado Itinerário do Primeiro Vinho Exportado de Portugal para a Grã-Bretanha — Conde d'Aurora
Um Vinho Branco de Monção - Amândio B. Galhano e Aida Santos.
Monção - R.V.O Vinho Alvarinho - José Barreto Moura

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma boa pesquisa sobre Monção. parabéns

Mag. disse...

Tenho visto alguns comentários, de pessoas referentes ao concelho de Monção, de onde sou natural, Merufe,alertando acerca de diversas situações tal como nos é pedido como cidadãos, paticipativos em democracia,só que estes democratas não passam de uns hipócritas, uns ditadores disfarçados, uns incompetemtes, que não ligam patavina, a quem reclama ou apresenta alguma sugestão, piores que o dr. Salazar, esse ao menos sabia-se com o que se contava, não enganava ninguem,nem desprezava as pessoas mas era directo.